quinta-feira, 30 de maio de 2013

A arte românica

Fonte: Descobrindo a História da arte - Graça Proença

Depois das primeiras décadas do século III, os imperadores romanos começaram a enfrentar lutas internas pelo poder. Havia, ainda, a ameaça às fronteiras do império por parte de povos invasores, a que os romanos chamavam de "bárbaros". Começava a decadência do Império Romano e o desaparecimento quase completo, na Europa ocidental, da cultura greco-romana, ou clássica.
As tradições greco-romanas só viriam a ser retomadas no século IX, com Carlos Magno, coroado imperador do Ocidente. 

O Império Romano é dividido

Em 395, o Imperador Teodósio dividiu o imenso território ameaçado, em duas partes: Império Romano do Ocidente e Império Romano do Oriente. O  Império Romano do Ocidente, com capital em Roma, sofreu sucessivas ondas de invasões até cair em poder dos bárbaros no ano de 476. Já o Império Romano do Oriente, apesar das contínuas crises políticas, conseguiu manter sua unidade até 1453, quando os turcos tomaram sua capital, Constantinopla. O ano de 476, com a tomada de Roma, marca o fim do período histórico conhecido como Idade Antiga e o início de outro período histórico, conhecido como Idade Média.



São Mateus Evangelista em miniatura da corte carolíngia (c. 800). Dimensões 37x25 cm. Museu Britânico, Londres.

A arte no Império Carolíngio

Com a coroação de Carlos Magno pelo Papa Leão III, no ano de 800, teve início um intenso desenvolvimento cultural. Em sua corte criou-se uma academia literária e desenvolveram-se oficinas onde eram produzidos objetos de arte e manuscritos ilustrados. Naquela época, os textos religiosos eram escritos à mão; ilustrá-los era tarefa para artistas que dominassem a pintura e o desenho sobre espaços reduzidos. As oficinas ligadas ao palácio foram os principais centros de arte. Sabe-se que delas originaram as oficinas monásticas, isto é, dos mosteiros, que teriam um importante papel na evolução da arte após o reinado de Carlos Magno. 
Como, após a sua morte, a corte deixou de ser o centro cultural do Império, a atividade intelectual centralizou-se nos mosteiros. Neles, a ilustração de manuscritos era a atividade artística mais importante, mas havia interesse também pela arquitetura, escultura, pintura, ourivesaria, cerâmica, fundição de sinos, encadernação e fabricação de vidros. Essas oficinas eram também as escolas de arte da época. Ali os jovens artistas preparavam-se para trabalhar nas catedrais e nas casas de famílias importantes.

A arquitetura

Dois tipos de abóbodas das igrejas românicas



A abóboda de berço consistia num semicírculo - o arco pleno - ampliado lateralmente pelas paredes. Apresentava, entretanto, duas desvantagens: O excesso de peso da pedra, que podia provocar sérios desabamentos, e a pouca luminosidade no interior das construções em virtude das janelas estreitas. A abertura de grandes vãos para as janelas era impraticável, pois poderia enfraquecer as paredes e, portanto, aumentar o risco de desabamento.



A abóboda de arestas consistia na intersecção, em ângulo reto, de duas abóbodas de berço apoiadas sobre pilares. Com isso, distribuía-se melhor o peso das pedras para evitar desabamentos, criava-se um ambiente que dava impressão de leveza e iluminava-se mais o interior das construções. Embora diferentes, os dois tipos de abóbodas causam o mesmo efeito: uma sensação de solidez e repouso, dada pelas linhas semicirculares e pelos grossos pilares.




Abadia de Saint-Pierre, em Moissac - França

Como poucas pessoas, naquela época, sabiam ler, a igreja recorria à pintura e à escultura para narrar histórias bíblicas e transmitir valores religiosos. Um lugar muito usado para isso eram os portais, na entrada dos templos. No portal, a área mais ocupada pelas esculturas era o Tímpano, a parede semicircular que fica logo abaixo dos arcos que arrematam o vão superior da porta. A abadia de Saint-Pierre, em Moissac, possui um dos mais bonitos portais românicos. No grande tímpano, com diâmetro de 5,68 metros, há um conjunto de figuras representando Cristo em majestade, coroado e sentado no trono. Com a mão esquerda ele segura o livro da Palavra de Deus; com a direita, faz o gesto de abençoar. Próximos a ele estão os evangelistas, representados por um anjo, um touro, uma águia e um leão. Como o tímpano é muito grande, foi colocada uma pilastra central, chamada Tremó, que divide a abertura da porta em duas partes iguais. Essa pilastra também é decorada com esculturas que representam leões e uma pessoa descalça, identificada como o profeta Jeremias. A beleza das esculturas de Saint-Pierre pode ser vista também nos capitéis das colunas que cercam o claustro do convento, decorados com folhagens, animais e personagens da Bíblia.




Abadia de Moissac: Observe como essa igreja românica sugere solidez e lembra uma fortaleza militar.




Claustro (Galeria coberta, em conventos, que contorna os quatro lados de um pátio interno ) da abadia de Saint-Pierre, em Moissac, França









A arquitetura românica na Itália

Mais próximos do exemplo greco-romano, os italianos procuraram usar frontões e colunas. Uma das mais conhecidas edificações da arte românica italiana é o conjunto da Catedral de Pisa.

Na Idade Média, os construtores italianos erguiam a igreja, o campanário ( parte aberta de torre onde estão os sinos, torre de sinos ) e o batistério ( lugar onde fica a pia batismal ) como edifícios separados. A planta da Catedral de Pisa, cuja construção foi iniciada em 1603, tem a forma de cruz, com uma cúpula sobre o encontro dos braços. A fachada principal lembra a forma de um frontão, característica dos templos gregos. No conjunto de Pisa, o edifício mais conhecido é o campanário, que começou a ser construído em 1174. Trata-se da famosa Torre de Pisa, que se inclinou porque, com o passar do tempo, o terreno sob ela cedeu. O elemento mais interessante desta construção é a superposição de delgadas colunas de mármore, que formam arcadas ao redor de todos os andares do edifício.



Catedral de Pisa




A Torre de Pisa



PINTURA E ESCULTURA

Numa época em que poucas pessoas sabiam ler, a Igreja recorria à pintura e à escultura para narrar histórias bíblicas ou comunicar valores religiosos aos fiéis. Não podemos estudá-las desassociadas da arquitetura.
A pintura românica desenvolveu-se sobretudo nas grandes decorações murais, através da técnica do afresco, que originalmente era uma técnica de pintar sobre a parede úmida.
Os motivos usados pelos pintores eram de natureza religiosa. As características essenciais da pintura românica foram a deformação e o colorismo. A deformação, na verdade, traduz os sentimentos religiosos e a interpretação mística que os artistas faziam da realidade. A figura de Cristo, por exemplo, é sempre maior do que as outras que o cercam. O colorismo realizou-se no emprego de cores chapadas, sem preocupação com meios tons ou jogos de luz e sombra, pois não havia a menor intenção de imitar a natureza.



O afresco

O afresco é uma técnica de pintura em paredes ou tetos de gesso ou revestidas com argamassa, ainda frescas, e geralmente assumem a forma de mural.
Por conta do estado fresco do gesso ou da argamassa, os pigmentos precisam ser diluídos apenas em água e, conforme a superfície pintada for secando, secam também o desenho, que passa a integrar a superfície, e a fixação é bastante duradoura, sendo um pouco menor em lugares úmidos, pois a umidade causa rachaduras e danos à estrutura da parede e à pintura. Pela afinidade com o clima seco, foi bastante utilizada no norte da Europa e na Itália, exceto Veneza.
A técnica exige do artista muita destreza e rapidez, pois a secagem é muito rápida, o que obriga o pintor a ser ainda mais rápido e competente no que faz. Uma das grandes desvantagens do afresco é a quase impossibilidade de corrigir erros depois da conclusão da pintura. O afresco foi utilizado na arte medieval, renascentista e barroca.
A técnica do afresco esteve presente em grandes momentos da história da arte, e ainda é muito utilizada e valorizada por artistas puristas, pois estes acreditam que a técnica somente pode ser executada com pigmentos naturais. Além do papel importante no desenvolvimento da cultura de todo o mundo, os afrescos também são de grande beleza.